A história da humanidade está recheada de exemplos conscientes e sustentáveis de eras e ciclos em que dominamos os recursos naturais sem afetar o ambiente no entorno.
Temos exemplos espetaculares de desenvolvimento e aproveitamento dos recursos hídricos, topográficos e climáticos assim como, também, sinais e ruínas do uso inadequado dessas mesmas fontes.
Sabemos que algumas desses agrupamentos humanos sumiram devido a catástrofes naturais, outras foram dizimadas durante guerras e invasões, e existem as que acabaram sendo dominadas e suas culturas foram sendo assimiladas por outros povos, por exemplo.
No entanto, também existem civilizações que desapareceram sem motivos evidentes, e até hoje muitos pesquisadores tentam entender o que pode ter acontecido com essas sociedades.
O pesquisador americano James Diamond, no seu livro Colapso, indaga:
Por que algumas grandes civilizações, que tinham tudo para dar certo, fracassaram ou desapareceram enquanto outras prosperaram?
Por que, depois de florescer de forma tão exuberante
num determinado período, todas essas civilizações
sumiram do mapa deixando para trás apenas ruínas
de suas construções?
Uma primeira conclusão é que o futuro de todos os grupamentos humanos primitivos sempre dependeu da forma como encararam ou enfrentaram os desastres ambientais que os aguardavam.
O planeta Terra, observa Diamond, é um ambiente altamente mutável, no qual o sucesso e a continuidade da vida estão intimamente associados à sua capacidade de se adaptar às mudanças. Sociedades que souberam cuidar dos seus recursos naturais foram mais bem sucedidas ao se antecipar às alterações climáticas e ambientais de modo a conseguir sobreviver à elas. Povos que, ao contrário, exploraram em excesso esses recursos, movidos pela necessidade ou pela imprevidência, traçaram o caminho do próprio fracasso.
É o que Diamond chama de “eco-suicídio”, ou seja, a incapacidade de entender a fragilidade do meio ambiente combinada com a ganância que leva a exploração dos recursos naturais muito além do limite sustentável.
O que aconteceu, por exemplo, com a Ilha de Páscoa? A explicação de Diamond: os moradores da Ilha exageraram na exploração dos seus recursos ambientais. Quando os primeiros seres humanos ali chegaram, por volta do século nono da Era Cristã, a ilha era coberta por um densa floresta tropical, repleta de aves e animais. Mas, o desmatamento sem controle para uso agrícola e exploração da madeira, rapidamente transformaram a região em um deserto.
A extinção das espécies nativas inviabilizou a caça e a coleta de frutos. Para complicar a situação, o oceano em volta era pobre em peixes e frutos do mar, devido à ausência de corais. O resultado óbvio foi que, em pouco tempo já não havia recursos para alimentar a população, estimada em cerca de 30 000 habitantes no seu auge. A chegada dos europeus, portadores de doenças como varíola e sarampo, foi uma contribuição adicional e decisiva para o desastre.
“Não existe exemplo mais clamoroso de sociedade que destruiu a si
própria explorando além da conta seus recursos naturais”, escreve
Diamond.
Ao investigar essa e outras histórias semelhantes de civilizações fracassadas, Diamond identifica alguns padrões de erro, como o crescimento populacional descontrolado e a exploração excessiva da caça, pesca e outros recursos naturais – todos problemas agravados por fatores como secas, invernos rigorosos, convulsões políticas ou guerras civis.
Ciclos de desmatamento excessivo deram lugar à erosão do solo e à fome decorrente do desaparecimento de animais e espécies vegetais usadas na alimentação, seguida da decadência de toda uma civilização. Natureza e seres humanos, afirma Diamond, estão ligados para sempre por laços indissolúveis. O futuro de um dependerá sempre do outro.
A diferença agora é que nunca antes os problemas foram tão graves e em escala tão gigantesca. Enquanto as civilizações antigas enfrentaram problemas locais ou regionais, desta vez a humanidade inteira encontra-se diante do desafio de salvar o planeta. Não é mais apenas um povo ou uma nação ameaçada, mas todos os seres humanos.
“O paralelo entre o destino da Ilha de Páscoa e o mundo moderno é absurdamente óbvio”, afirma o autor. "Graças à globalização, ao comércio internacional, aos aviões a jato e à Internet, todos os países do mundo hoje compartilham os mesmos recursos finitos. A Ilha de Páscoa era um lugar isolado no Oceano Pacífico, tanto quanto a Terra é um planeta solitário na imensidão do universo. Quando os habitantes polinésios da ilha se viram em dificuldade, não havia para onde fugir, da mesma forma como nós, seres humanos atuais, não teremos para onde ir caso os problemas atuais continuem a se agravar até o limite do desastre”.
O autor fornece uma lista de doze desafios para a humanidade hoje:
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Destruição dos habitats naturais
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Pesca exagerada nos rios e oceanos
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Redução na diversidade biológica
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Empobrecimento do solo
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Crise do petróleo e falta de recursos fósseis capazes de fornecer energia para uma população crescente
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Dramática redução nos estoques de água potável
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Redução da energia solar devido às mudanças climáticas
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Contaminação do solo por resíduos tóxicos
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Invasão dos antigos habitats naturais por pragas e espécies alienígenas
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Atividade humana exagerada
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Super-população do planeta
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Aumento no impacto per-capita sobre os recursos naturais
Apesar do tom pessimista, Jared Diamond encerra seu livro com uma nota positiva: de todas as sociedades que, ao longo da História, contemplaram o colapso, apenas a nossa tem a oportunidade de aprender com o passado. O problema é que, dependendo de como essas lições forem estudadas e aplicadas, talvez não haja mais ninguém para contar essa história no futuro – como fez Diamond.
“Será que algum dia turistas se vão estarrecer confundidos perante as gigantescas estruturas
decadentes de arranha-céus nova-iorquinos, da mesma forma que hoje nos impressionamos
pelas ruínas das cidades Maia conquistadas pela selva? ”
FONTES:
COLAPSO – Jared Diamond; Editora Record, 2005
VIVIANE TELES